Quando
pensei em escrever o texto, a motivação foi em fornecer informações que podem
ser muito úteis a pessoas comuns que, como eu, frequentam baladas, “barzinhos”,
formaturas, festas, enfim, pessoas com vida social.
Podemos
não saber, mas estamos sujeitos a sofrer consequências físicas causadas por
desabamentos, incêndios, quedas, entre outros, das edificações nas quais
estamos inseridos.
Este
texto vai tratar das questões relacionadas ao incêndio, seus principais
perigos, causas e as possibilidades de prevenção relacionadas tanto à
manutenção da estrutura predial, quanto da percepção de risco e atitudes de
cada pessoa.
Antes de
continuar, quero prestar respeito às vítimas da madrugada do recente dia 27 de
janeiro em Santa Maria/RS, no qual um incêndio matou 236 pessoas
e feriu outras tantas. Esse texto foi incentivado por estes acontecimentos.
Espero que o que aconteceu sirva como um alerta para as pessoas, e as incentive
a buscar informações que podem afetar diretamente sua segurança e suas vidas.
Falando um pouco sobre incêndio
O que é
um incêndio?
Trata-se
uma ocorrência na qual há formação de fogo e este fica descontrolado. Para a
criação do fogo, é necessária a presença do chamado “Quadrilátero (ou
Tetraedro) do fogo”, formado pelo combustível (qualquer material que
pegue fogo), comburente (elemento que, associado ao combustível, pode
fazê-lo entrar em combustão – como o oxigênio), o calor (necessário para
iniciar a combustão) e a reação em cadeia (onde a temperatura das chamas
consegue inflamar os demais materiais existentes no local).
Retirando
qualquer um dos três primeiros componentes, não há fogo e o incêndio é apagado.
Os extintores seguem essa ideia, podendo atuar nas três pontas do triângulo,
mas não na reação em cadeia.
Outro ponto importante a frisar é o tipo do
extintor que deve ser utilizado para cada classe de incêndio. Cada tipo de
extintor age de uma forma, o que o torna mais ou menos eficaz para cada tipo de
combustível. Parece complicado, mas é bem simples:
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Classe
A: materiais
sólidos como madeira, papel, tecidos e seus derivados;
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Classe
B: líquidos
inflamáveis como gasolina, álcool, tinta, óleo diesel, etc;
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Classe
C: redes
elétricas e fiações, como em motores elétricos, geradores, equipamentos
elétricos e eletrônicos, etc.
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Classe
D - metais
inflamáveis.
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Classe
K: Óleos e
fogos de graxa. (Nunca use água sobre um incêndio de gordura – que fará com
que as chamas explodam e espalhem-se)
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Classe E
Extintor de incêndio não magnético. São os materiais radioativos.
Próprio para uso em Equipamentos de Ressonância Magnética.
Nesse caso recomenda-se isolar a área e acionar a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear ou o Corpo de Bombeiros) .
Extintor de incêndio não magnético. São os materiais radioativos.
Próprio para uso em Equipamentos de Ressonância Magnética.
Nesse caso recomenda-se isolar a área e acionar a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear ou o Corpo de Bombeiros) .
Os extintores mais comuns são os que contêm água, Pó Químico Seco (PQS) ou Gás Carbônico. |
Repare
bem nos tipos de extintores e procure-os no seu trabalho, no prédio onde você
mora. Veja a diferença física e de instruções de cada um deles
Quando usar um extintor e quando deixar o local
Se
estiver num local em que surge um princípio de incêndio, você pode combatê-lo
antes que ele tome proporções incontroláveis. Para isso, siga as instruções
abaixo:
1. Tente identificar primeiro a
origem do fogo para escolher o extintor mais indicado. Não se deve usar um
extintor com carga de água para apagar um incêndio Classe B, porque ele pode
propagar mais o fogo, nem de Classe C, devido aos riscos de curtos circuitos e
choques elétricos. Além disso, se utilizar o PQS em equipamentos elétricos, o
produto que serviria para apagar o fogo“gruda” nos componentes, arruinando seus
circuitos elétricos (como placas-mãe de computadores). Na dúvida, utilize o
extintor de PQS, cujos riscos ao usuário são menores;
2. Corte o lacre de plástico,
torcendo-o;
3. Retire o pino de segurança;
4. Faça um teste rápido,
pressionando o gatilho ou abrindo a válvula;
5. Posicione-se a uma distância
segura do foco. Se estiver ventando, coloque-se de uma forma que o fogo não
venha na sua direção;
6. Dirija o jato para a base das
chamas e faça movimentos de um lado para o outro, como se você estivesse
“varrendo” o fogo;
7. Se o fogo estiver se propagando
verticalmente, mire na base das chamas e faça um movimento ascendente e lento
(de baixo para cima).
Outros pontos importantes:
- Se houver vários extintores,
utilize-os de forma conjunta para obter um resultado mais rápido.
- Não tente combater um
incêndio que está se expandindo muito além do seu ponto de origem.
- Chame sempre os bombeiros
– basta
discar UM (1), NOVE (9), TRÊS (3). Mantenha os números de
emergência perto dos telefones fixos e na memória dos celulares.
- Caso não lembre como usar,
siga as instruções que estão no verso do extintor.
Puxe o
pino que há no punho; Aponte o bocal na base do fogo; Aperte a alavanca
devagar; “Varra” de um lado para o outro. (Fonte: The Art of Manliness)
A questão
principal aqui é que os extintores, por exemplo, servem para combater apenas o
princípio do incêndio, quando ainda há pouco fogo.
Após
certo momento, não é possível controlar o fogo apenas com o uso de
extintores, e deve-se utilizar os hidrantes, ligados a uma mangueira,
alimentados pela água da rede pública (o uso de hidrantes deve ser feito apenas
por pessoas minimamente treinadas, como brigadistas; se você não foi treinado,
saia do local imediatamente).
Quando o
incêndio toma proporções ainda maiores, é absolutamente necessário ligar para o
Corpo de Bombeiros, solicitando ajuda.
Por isso
a importância de haver uma brigada de incêndio de prontidão em locais de grande
acúmulo de pessoas. Quanto mais pessoas, maior o número de brigadistas
treinados necessários, podendo-se inclusive ser necessária a contratação de
profissionais (bombeiros) para permanecer em prontidão.
A ação
imediata e precisa enquanto incêndio está no seu início é fundamental para
diminuir as perdas e danos.
O que
podemos fazer, na prática
Existem algumas medidas simples que podem fazer uma
grande diferença nos efeitos de um incêndio. Algumas são estruturais e,
portanto, de responsabilidade do projetista da edificação, do dono (pela
administração do local e instalação das medidas de segurança), do corpo de
bombeiros (pela avaliação da segurança do local), e possivelmente de técnicos
da área de segurança do trabalho.
O que aconteceu no caso da boate Kiss, em Santa Maria (Fonte: Folha de S. Paulo) |
Entre
estas responsabilidades, estão:
- Instalação (e testes periódicos) de alarme de
incêndio;
- Plano
de evacuação/emergência/ de incêndio e pânico;
- Sinalização
de acordo com a legislação;
- Rota
de fuga estabelecida e visível às pessoas no local;
- Instalação
de detector de fumaça e sprinklers (chuveiros/pulverizadores
automáticos de água, acionados pela fumaça);
- Instalação
de extintores de acordo com o material combustível no local e risco de
incêndio;
- Saída(s)
de emergência (identificadas por placas fotoluminescentes, que brilham no
escuro), de modo a garantir a evacuação imediata de todos no local, em
caso de incêndio;
- Portas
corta-fogo (no caso de edificações com mais de um andar, estas portas
protegem as escadas utilizadas durante a fuga) e ventilação (para manter
as escadas livres de fumaça);
- Instalação
de iluminação de emergência;
- Compartimentação
Interna Vertical e Horizontal (os pisos e paredes são construídos de modo
a não permitir a passagem de fogo para salas que não estão pegando fogo);
- Manutenção
adequada de todos estes equipamentos e estruturas, de modo a mantê-los
funcionais.
Como se
pode perceber, existem muitas medidas preventivas contra a ocorrência de um
incêndio. Se uma edificação estiver em dia com suas responsabilidades legais, é
bem menos provável que haja um incêndio no local, pois o fogo pode ser
controlado antes de aumentar de proporção e causar maiores danos.
Ainda
assim, há possibilidade de isto acontecer, no caso destas medidas preventivas
não forem suficientes ou não terem uma manutenção adequada.
Você,
como frequentador daquela balada que adora, tem o direito de se preocupar se a
mesma segue estas medidas de segurança à risca. Exija do dono ou dos
responsáveis pelo local que medidas de segurança sejam adotadas, caso perceba
alguma irregularidade.
Denuncie
para o Corpo de Bombeiros. Paralelamente, é importante que você esteja atento e
seja observador.
A sua
percepção do risco e suas atitudes são essenciais para a sua segurança – e
possivelmente, a dos seus amigos – no caso da ocorrência de um incêndio.
Assim que
entrar em qualquer edificação (prédio, casa ou estrutura física construída),
preste atenção em identificar:
1. Os locais de acesso para fora do
local;
2. saída(s) principal(is) e
saída(s) de emergência(s). Elas deverão possuir uma identificação acima da
porta;
3. Os extintores e seus tipos;
4. Detectores de fumaça;
5. sprinklers;
6. Luzes de emergência;
7. Sinalização com setas (verdes,
que indicam o caminho mais curto até a saída mais próxima) e rota de fuga.
Obs: as setas verdes fotoluminescentes indicam o
caminho mais curto para a saída mais próxima ao local em que você está (Rota de
Fuga).
O que fazer durante um incêndio com fogo não
controlável
Suponha
que você está num local e este começa a pegar fogo. O que fazer? Primeiro de
tudo o mais importante: não entre em pânico.
É bem
mais fácil pensar do que fazer na hora. Respeite o fogo, mas não perca o
controle. Além disso:
1. Haja rapidamente. Procure
identificar a saída mais próxima a você e dirija-se a ela. Tenha certeza de que
é uma saída, verificando a sinalização acima da porta;
2. Acione o alarme de incêndio;
3. Haverá
fumaça tóxica no ar, que
pode fazê-lo desmaiar rapidamente. Procure proteger o nariz com uma camisa,
pano, ou máscara – se tiver – amarrados firmemente ao rosto. Você ganhará
instantes que poderão ser valiosos para a fuga.
4. Caso esteja no banheiro e escute
o alarme de incêndio ou uma gritaria de pânico, pare imediatamente o que
estiver fazendo e deixe o local. Mesmo que tenha que se afastar para ninguém
vê-lo (ou sentir o cheiro), o mais importante é sair com vida;
5. Se for mulher e estiver de
salto, tire-o e jogue num canto para não atrapalhar a passagem dos outros em
fuga;
Se for
mulher e estiver com bolsa, deixe-a no local e vá embora sem ela. Em
incêndios, há vários casos de mulheres que perdem um braço, pois acabam
prendendo a alça da bolsa no corrimão da escada e, devido ao grande número de
pessoas descendo, o couro da bolsa não arrebenta e o braço é arrancado. Melhor
perder a bolsa;
6. Se não conseguir sair
rapidamente, procure se molhar o máximo que puder. A camada de água que se
formar oferece uma pequena proteção contra o fogo, mas que pode ajudá-lo a
aguentar o calor;
7. Tome cuidado para não cair ou
causar a queda dos outros, pois pessoas que caem em passagens com grande fluxo
de pessoas correm o risco de serem pisoteadas;
8. Mantenha-se o mais próximo do
chão. Os gases tóxicos tendem a ocupar a parte superior do ambiente;
9. Não siga as outras pessoas. Siga
a sinalização e sua observação do local. Muitas pessoas correm para a
primeira porta que veem, outras as seguem achando que estão indo para a saída e
impedem as primeiras que se enganaram de voltar pelo mesmo caminho. Este tempo
perdido pode fazer diferença entre a vida e a morte;
10. Se for abrir portas usando
maçanetas, utilize um pano ou camisa molhados para não queimar a mão.
Certifique-se que não há fogo do outro lado, sentindo a irradiação de calor. Se
abrir a porta e o outro lado estiver com fogo, ele pode ir em sua direção;
11. No caso de festas, bares e
baladas, procure consumir bebidas alcoólicas até um nível em que você esteja em
condições de se mover e deixar o local rapidamente.
Segurança
é coisa séria.
As nossas
vidas e de nossos conhecidos e amigos podem estar mais na nossa mão do que
pensamos. Pequenas mudanças de atitude podem fazer grandes diferenças nos
resultados de um incêndio. Temos que ter calma e estar preparados. Para no caso
de qualquer sinistro ocorrer, conseguirmos escapar com vida e com saúde.
Caso
saibam de alguma informação importante a acrescentar ao texto ou relatos sobre
o tema, fiquem à vontade para postar nos comentários deste texto. Ficarei bem
feliz em acompanhá-los.
Casas noturnas em São Paulo não possuem alvará de
funcionamento
O Estadão
começou uma campanha bem legal para identificar casas noturnas que oferecem
risco aos frequentadores, dando mais poder às pessoas para reclamar seus
direitos e exigir uma postura correta dos responsáveis pelas baladas.
As casas
noturnas que não possuem alvará de funcionamento foram identificadas e seguem
no link acima. Importante mencionar que somente o alvará não atesta a segurança
do local. A segurança só é atestada pela presença de um AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros)
válido, ou seja, dentro da validade.
O AVCB
pode ter outros nomes em outros estados
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